Beneficiários do Bolsa Família perdem bilhões em Apostas Online; Reembolso é Incerto

Especialistas alertam para a vulnerabilidade econômica e a publicidade intensa como fatores que contribuem para o vício, configurando práticas abusivas das plataformas. O montante perdido seria suficiente para custear milhões de cestas básicas ou construir centenas de Unidades Básicas de Saúde
Beneficiários do Bolsa Família perdem bilhões em Apostas Online

Entre 1,8 e 3 milhões de beneficiários do Bolsa Família apostaram parte de seus recursos em plataformas de jogos online, totalizando R$ 3 bilhões perdidos até agosto do ano passado, segundo o Banco Central. A Polícia Federal investiga possíveis fraudes, e uma ação civil pública, protocolada em maio de 2025, busca a devolução desses valores, mas não há previsão de quando a Justiça decidirá ou executará um eventual reembolso.

A ação, movida por organizações como Educafro e Cedeca, também pede que as empresas de apostas bloqueiem o acesso de beneficiários do CadÚnico e promovam campanhas de conscientização, sob pena de multas diárias e suspensão de atividades.

“É um dinheiro público que, por malandragem e falta de caráter desta quadrilha organizada, foi desviado de sua finalidade para enriquecer grupos exploradores, sob os olhares omissos de quem deveria proteger o povo pobre. […] Na ilusão de aumentar o dinheiro público que receberam para enfrentar seus problemas, [pessoas assistidas] jogam em bets, na ilusão de um ganho”, diz o diretor de uma das organizações que moveu a ação, a Educafro, Frei David.

Especialistas alertam para a vulnerabilidade econômica e a publicidade intensa como fatores que contribuem para o vício, configurando práticas abusivas das plataformas. O montante perdido seria suficiente para custear milhões de cestas básicas ou construir centenas de Unidades Básicas de Saúde, evidenciando o impacto social da questão. O mercado de apostas, que movimenta bilhões mensalmente, continua crescendo, e estima-se que a perda de recursos do Bolsa Família possa ser ainda maior hoje.

Para o advogado constitucionalista Ilmar Muniz, as empresas esportivas podem ser responsabilizadas em casos de práticas abusivas. “Embora a decisão última de realizar apostas parta da pessoa, é difícil dissociar esse comportamento do contexto estrutural em que se insere. Fatores como a precariedade econômica, a ausência de políticas públicas eficazes, a baixa oferta de oportunidades de trabalho e a intensa publicidade das plataformas podem contribuir significativamente”, explica.

Caliel Conrado

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